Jonathan Uliel Saldanha

SCOTOMA CINTILANTE materializa uma mundivisão onde a relação tátil com a matéria inanimada é a fonte primordial da construção do som. Este concerto-performance inscreve-se entre o material e a anima, entre a pré-linguagem e a superfície, e opera a interceção de quatro eixos: o aparelho vocal humano; uma linguagem háptica; a refração como mecanismo tático de mutação e de “rematerialização” do tempo; e a camuflagem da palavra pela voz. Operando a interceção do aparelho vocal humano com o tacto, numa refração da voz pela dismorfia.

A estreia da performance efetua-se em duas zonas contíguas: uma zona háptica, onde a performance se desenrola, e uma zona ressonante, onde a performance é difundida. No seguimento deste concerto-performance, Jonathan Saldanha construiu DISMORFIA. Uma exposição que prolonga esta investigação em torno da visualidade do tacto e da compreensão do olho humano enquanto lugar de todas as imagens e de todos os reflexos. Não se trata de uma apologia da visualidade como único lugar de passagem entre o interior e o exterior, mas de uma crítica à sua predominância cultural e orgânica.

O encontro entre imagem retiniana, voz e de um fluído com a escultura-dispositivo que transita entre SCOTOMA CINTILANTE e DISMORFIA e obriga a uma interseccionalidade dos sentidos. As imagens que surgem na exposição – fotografias do coro Ver pela Arte, modelo 3D de um olho que reflete um mundo sem o conseguir percecionar, e animações 3D de óleos e jatos de tóxicos – recuperam as diferentes fases do processo criativo e constroem um universo de possíveis ligações entre o que se ouve, o que se vê e o que se sente. Ou seja, uma nova narrativa do háptico, do visível e do audível e de todas as suas ressonâncias.

“Reduzida a ouvir-te, vejo-te com os ouvidos...” Jean Cocteau, A Voz Humana Scotoma Cintilante integra as celebrações dos 40 anos da Universidade Católica Portuguesa no Porto e resulta de uma residência artística na Escola das Artes da Católica no Porto.